Carreira
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19/08/2011
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18h42
Campo de provas da Ford: uma história com mais de 40 anos
Tatuí já foi fazenda de milho e batatas
Mário Curcio, AB
Mário Curcio
No fim dos anos 1960, a Ford já testava e desenvolvia veículos no Brasil, mas a dependência de vias públicas limitava essas avaliações. Naquele período, Luc de Ferran e Edgard Heinrich (foto abaixo) eram dois dos engenheiros envolvidos com o desenvolvimento de automóveis. De Ferran havia entrado na Ford como estagiário em 1965 e ocupava o cargo de supervisor de durabilidade e testes especiais. Heinrich atuava como engenheiro-sênior de testes especiais. Também havia começado como estagiário, mas da Willys, incorporada pela Ford em 1967.
De Ferran teve a ideia de adquirir um terreno no Estado de São Paulo onde a Ford pudesse testar seus veículos. Levou-a até a direção da montadora no Brasil, que por sua vez encaminhou a proposta à matriz. A ideia foi bem recebida. Assim, De Ferran e Heinrich passaram a procurar o tal terreno. “Voamos por três meses. Também procuramos na região de Indaiatuba e Atibaia”, conta Heinrich.
Assim que escolheram o local em Tatuí, Heinrich foi incumbido de levar a proposta ao dono das terras, com 4,66 milhões de metros quadrados. “Não me identifiquei como representante da Ford para não prejudicar o negócio. Foram pagos US$ 500 mil. A proprietária era uma mulher que havia herdado as terras. Vivia do cultivo de batata e milho. Morava numa casa sem energia elétrica e retirava a água para o consumo de um grande poço, com quatro metros de diâmetro”, recorda Heinrich.
O campo de provas foi inaugurado somente em 1978, mas bem antes disso, na primeira metade dos anos 1970, foi feita uma pista de terra para pôr à prova o Jeep e a picape “Rural” F-75 com tração 4x4. “Foi um investimento muito baixo para um resultado surpreendente”, recorda. Em 1976, porém, a montadora investiu pesado, US$ 1,6 milhão para as obras do campo de provas, concluídas dois anos depois.
“Vários projetos importantes foram desenvolvidos ali como o Del Rey (1981) e o Escort (1983)”, recorda. “Até 1978 dependíamos de estradas e vias públicas. Fazíamos testes de velocidade máxima em rodovias de acesso ao litoral; contávamos com a cooperação da Polícia Rodoviária, mas o aumento de tráfego cada vez nos expulsava para mais longe”, recorda Heinrich, saudoso.
Mãe e filha juntas
Entre os motoristas de testes atuais de Tatuí há uma história interessante que envolve mãe e filha (foto abaixo). Ângela Silva, de 42 anos, se casou com um caminhoneiro em 1986 e frequentemente tinha de ajudar o marido. Dirigia o caminhão na estrada. Em 2005, ficou sabendo por uma amiga de Bruna, sua filha, que estavam contratando motoristas para o campo de provas.
Elaborou um currículo, enviou e pouco tempo depois foi chamada. Ângela dirige todos os tipos de veículo. Caminhões, picapes, automóveis. “Com as carretas ela faz inveja a muito marmanjo”, disse um dos instrutores. Em 2010 a filha também foi admitida. Bruna tem hoje 23 anos. Ambas trabalham no turno das 7 às 16 horas. O campo de provas não para. Há dois outros turnos, das 16 horas à meia-noite e da meia-noite às 7 horas. “Às vezes dirigimos 200 km/dia, às vezes são 600 km/dia. Depende da rota estabelecida para o veículo”, revela a mãe. A quilometragem diária é menor em trajetos mais acidentados, que exigem velocidade mais baixa.
Edgard Heinrich chegou em Tatuí em 1968 com uma mala US$ 500 mil e comprou a área onde fica o campo de provas; Bruna e Ângela Silva: filha e mãe são motoristas de testes e dirigem o que aparecer pela frente.
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