Insumos
|
03/12/2012
|
16h40
Preço do aço gera embate entre siderúrgicas e montadoras
Discutem tarifa antidumping contra importação
REDAÇÃO AB
Dois poderosos lobbies estão provocando um acirrado embate em Brasília. Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, por um lado, o governo federal é pressionado pelos fabricantes de aço a adotar barreiras contra a importação do produto e, por outro, pelas montadoras, que são a favor da livre concorrência, justificando que o aço no Brasil é um dos mais caros do mundo.
A guerra ganhou forças no fim de setembro, quando o governo Dilma Rousseff negou o pedido da CSN, apoiado por Usiminas e Arcelor Mittal, para adotar uma tarifa antidumping contra a importação do aço laminado plano revestido, o mais utilizado por fabricantes de veículos e que movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano.
O Departamento de Defesa Comercial (Decom), do Ministério do Desenvolvimento, chegou a visitar empresas de aço de cinco países (Austrália, China, Coreia do Sul, Índia e México), e as siderúrgicas brasileiras. Depois de mais de um ano de trabalho, concluiu que
houve um surto de importações de aço com dumping (a preços abaixo dos praticados no mercado de origem), mas que não foram provocados danos para as siderúrgicas nacionais.
Na avaliação do Decom, a participação do aço importado saltou de 4,5% em 2006 para 36,6% em 2010. E as margens de dumping variaram de US$ 77 a US$ 412 por tonelada no período. Apesar de tudo isso, o lucro das empresas instaladas por aqui, segundo o órgão, cresceu 51,9% entre 2006 e 2010. A CSN argumenta, no entanto, que os dados estão distorcidos por acontecimentos excepcionais, como a explosão de um alto-forno em 2006. "Os técnicos do Decom estiveram nas fábricas e viram as linhas de produção paradas. Se isso não é dano, não sei o que é", declarou uma fonte ao jornal.
"Não adianta uma margem de dumping elevada se falta o dano. Os indicadores mostram uma recuperação do setor no período", defendeu Felipe Hees, diretor do Decom. "Nenhuma empresa montaria um processo desse, como fez a CNS, se não se sentisse prejudicada pelas importações", contrapôs Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil.
Dentre as montadoras que estão brigando para manter as tarifas de importação estáveis, a Volkswagen declarou que a medida antidumping seria “catastrófica” para a indústria automobilística nacional. Enquanto a Renault disse que o mercado brasileiro "é um dos mais caros do mundo para adquirir aço".
E AGORA?
Segundo fontes ouvidas pelo O Estado de S. Paulo, a CSN, que gastou cerca de R$ 300 mil no processo, não se contentará com este resultado. A empresa já entrou com recurso, em análise pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. E escalou executivos para tentar convencer autoridades, principalmente do Ministério da Fazenda.
O setor não desistirá, pelo menos por enquanto, de incluir o aço revestido na nova lista de aumentos de tarifa de importação que vem sendo preparada pelo governo federal para proteger a indústria nacional.
"Sob condições normais, o Brasil não precisa de aço importado. Só queremos isonomia. Estamos procurando todos os secretários do governo para explicar isso", defendeu uma fonte do setor siderúrgico. "Não podemos interferir diretamente num processo antidumping, mas vamos reagir se o aço for incluído em alguma lista de exceção", disse outra de uma montadora.
Além da Volkswagen e da Renault, aparecem envolvidas no processo a Ford e a Fiat. As montadoras compram um volume pequeno de aço revestido fora do Brasil, preferindo o produto local, disponível em depósitos próximos de suas fábricas. Mas não abrem mão da disputa porque o valor do aço importado funciona como referência no Brasil, interferindo nas negociações entre siderúrgicas e montadoras.
Tags: Aço, siderúrgicas, montadoras, CNS, importação, governo.