Os recursos governamentais oferecidos para estimular a Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) são subutilizados no Brasil. Quem dá o recado é Valter Pieracciani, presidente da Pieracciani Consultoria. Segundo ele, que participou do Workshop Legislação Automotiva, promovido por Automotive Business, o Rota 2030 organizou melhor uma prioridade que já estava no Inovar-Auto, a política automotiva anterior. Pelas novas regras, calcula, o governo pode arcar com até 70% do investimento das empresas do setor em P&D. “O incentivo está aí. Precisamos apenas orquestrar os vários programas de fomento e usá-los adequadamente”, defende.
Pieracciani aponta que muitas empresas do setor cometem erros importantes já nas etapas mais básicas do desenho de seus programas internos, como não classificar adequadamente os projetos. “Já vi investimentos que eram P&D puro, mas estavam categorizados como aportes em assistência técnica”, conta. Ele afirma que, se olhar com cuidado, a maioria das empresas já tem projetos na área ou, caso não tenha, pode desenhar investidas importantes sem grande dificuldade.
“Precisamos ajustar o olhar para entender o que é P&D. As matrizes nos ensinam que o Brasil não sabe fazer isso e nós acreditamos. Estamos acostumados a dar outros nomes, muitas vezes pejorativos, a projetos excelentes de pesquisa. Chamamos de tropicalização, de gambiarra. Precisamos rever isso”, defende.
O consultor observa que os engenheiros têm custo relativamente baixo no Brasil e oferecem competências que podem contribuir muito para a evolução do setor. “Somos campeões na criação de software e aplicativos”, afirma. Pieracciani diz que, para mudar esse jogo, as empresas devem desenhar uma estratégia de inovação dentro do Rota 2030 e fazer um amplo levantamento dos projetos que já têm em curso. “É preciso criar ferramentas para controlar tudo, renomear o que não está classificados adequadamente, eliminar estes apelidos depreciativos”, conta.
Só depois disso a organização deve pensar em um sistema de gestão de incentivos a Pesquisa & Desenvolvimento. “Isso tudo é muito trabalhoso, mas são coisas que se pagam em três a seis meses de uso”, calcula, defendendo que o esforço é recompensado. Pieracciani aponta que se livrar do complexo de vira-lata talvez seja um desafio maior para a engenharia brasileira do que, efetivamente, fazer P&D localmente.
Ele lembra que a Uber acaba de anunciar investimento de US$ 250 milhões em um centro de desenvolvimento no Brasil. Outro exemplo é a Hyperloop, que propõe um novo sistema de transporte em alta velocidade, e aplica US$ 7,8 milhões para avançar com o projeto localmente. “Estas empresas estão escolhendo o Brasil pelas competências locais. Por que nós, que já estamos aqui, não fazemos o mesmo?”, conclui.
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